quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Bitolinhas na Inglaterra e na França



RH&DR 1/1/11 Part 1

Enviado por ALEXTHEVICTOR em 01/01/2011

HAPPY NEW YEAR

I went to the rhdr on the 1st of January and bought the first 2011 ticket from New Romney.

This vid is of the days goings on from various parts of the railway.

Enjoy.

NR.: Vídeo indicado pelo Cristiano Bueno, em resposta à antiga dúvida do professor Délio Araújo (FRC).



A velha senhora

Ele saltou do trem Paris - Havre numa pequena estação deprimente, Bréauté-Beuzeville. Tivera de levantar-se às 5h, nessta manhã, e à falta de um táxi fora obrigado a tomar o primeiro metrô para a gare Saint-Lazare. Esperava agora pela sua conexão.

— O trem para Étretat, por favor?

Passava de 8h, e já era dia há algum tempo; mas, por causa de uma leve neblina e do frio úmido no ar, parecia ainda madrugada.

Não havia restaurante na estação, nem um bar, só uma espécie de taverna do outro lado da estrada, onde se viam algumas carroças de vendedores de gado.

— Étretat? O senhor tem muito tempo. Aquele é o seu trem, lá na frente.

A uma boa distância da plataforma, alguns carros sem locomotiva apontavam na direção dele, carros de modelo antigo, pintados de um verde fora de moda, com uns poucos passageiros imóveis por detrás das janelas. Pareciam esperar desde a véspera, e o trem não parecia real. Era como um trem de brinquedo, um desenho de criança.

Uma família — parisienses, naturalmente! — veio correndo, esbaforida, Deus sabe por quê, saltou por cima dos trilhos, e precipitou-se para a composição sem máquina, as três crianças a carregar redes de pescar camarões.

Esse foi o estalo decisivo. Por um momento, Maigret sentiu-se jovem outra vez, e embora estivesse pelo menos a 20 km do mar, seu cheiro pareceu alcançá-lo, imaginou ouvir a sua batida ritmada; ergueu a cabeça e olhou com algum respeito as nuvens cinzentas que deviam vir do alto-mar.

Para ele, que nascera e passara a infância no interior, o mar fora sempre assim: redes de pegar camarões, um trem de brinquedo, homens de calças de flanela, barracas de praia, vendedores de conchas e outras lembranças, bares onde se comiam ostras e se bebia vinho branco, e pensões onde a srª Maigret ficava tão infeliz ao cabo de alguns dias sem fazer nada, que teria com prazer sugerido ajudar na lavagem da louça. (...)

“A velha senhora” — tradução de Raul de Sá Barbosa, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro
“Maigret et la vieille dame”, Georges Simenon, 1949

N. R.: Os 9 parágrafos iniciais de “A velha senhora” ilustram com vividez uma realidade que pouco chegou a ser conhecida no Brasil.

O pequeno trem que “não parecia real” sugere um reflexo, no litoral da Normandia (França), das mini ferrovias de utilidade pública que Délio Araújo nos mostra na outra margem do canal da Mancha (FRC).

Ferreomodelismo Live steam, ou Vapor vivo